top of page

Olhares sobre o Patrimônio

O PROJETO

 

Para traçar um perfil identitário de um complexo povoado, é necessário ouvir suas histórias, é necessário se adentrar e aperfeiçoar o trabalho de extrair a memória de todo um povo. É se inserir naquele universo e compreender como as pessoas que o observam de fora tem uma visão não apenas deturpada, mas pobre, de sua realidade. Numa sociedade individualista, é árduo o trabalho de compreender que, apesar de bem representados, a identidade de uma comunidade como um todo se traça pela história de seu povo. Um povo rico em histórias, rico de trabalho, rico de diversidade. Que vive ao lado de de uma fortaleza muito mais que centenária. São 437 anos de história, quase meio milênio, parte da história do nosso país e realidade permanente daqueles que vivem a margem de um pré-conceito.

 

A história de um povo é a raiz da sua identidade, suas lutas, suas conquistas e suas derrotas. Apesar de sempre encabeçadas, o destaque individual é singular com suas próprias características e ideais, é o seu abraço pelo povo que gera um sentimento de pertencimento. A busca pela qualidade de vida em um ambiente visto como precário é o reflexo de um povo que ama a sua terra, que se enxerga em seu entorno e se sente seguro. Não são homogêneos, não confundam o fato de se viver em comunidade com conceito de apoio, é óbvia a constante luta por direitos e melhores condições, mas é desnecessária a generalização de um povo apenas pela sua luta.

 

Somos singulares, mas vivemos em comunidade, nossas decisões a atos reverberam em nosso futuro, e se tornam o passado, passado esse que pode ser marcado na memória de nossos familiares, amigos e comunidades. Não são nossas atitudes como seres individuais que constroem a identidade de nosso povo, mas sim como serão lembradas, o legado que deixarão para os próximos. Se me sinto seguro, por que sair? O sentimento de pertencimento é o ato de resistir ao pré-conceito e firmar as nossas raízes naquilo que julgamos nos representar.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL:

  • Compreender os conceitos tradicionais de patrimônio cultural e seus debates

  • Entender os usos do patrimônio como meio de preservação

  • Analisar o papel da identidade e da memória para a efetiva manutenção e eleição do patrimônio/bem cultural

  • Apreender a centralidade do território nas relações sociais que circunscrevem a prática patrimonial.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

  • Compreender a inserção da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande como patrimônio cultural

  • Entender a relação entre o patrimônio e a comunidade que compõe a zona de amortecimento

  • Analisar a relação entre patrimônio cultural e habitação

JUSTIFICATIVA

Nos últimos 50 anos há hiatos na relação de apropriação do edifício pela comunidade, com momentos de abandono e retomada. É essencial entender como se dá esse ciclo e tirar proveito disso para restaurar a relação de pertencimento, criando um ciclo virtuoso de progresso e preservação.

METODOLOGIA

Tomamos como central, no processo de construção metodológica do presente projeto, um olhar que venha do território. Por tratarmos da necessidade latente de que a relação indissociável entre patrimônio e território nos sugere, buscaremos a elaboração de uma proposta investigativa que busque seus subsídios nas próprias dinâmicas sociais engendradas na área que circunscreve o patrimônio, sua zona de amortecimento.

As cidades mostram-se como ambientes cujas dinâmicas são vistas de modo descolado da própria realidade social. Na medida em que os problemas surgem e necessidades de intervenção se fazem presentes, deparamo-nos com um espaço que nos aparenta desconhecido, nas palavras de Magnani, 2002:

(...) observa-se a ausência dos atores sociais. Tem-se a cidade como uma entidade à parte de seus moradores: pensada como resultado de forças econômicas transnacionais, das elites locais, de lobbies políticos, variáveis demográficas, interesse imobiliário e outros fatores de ordem macro; parece um cenário desprovido de ações, atividades, pontos de encontro, redes de sociabilidade (p. 14)

Por mais que esses aspectos pareçam distantes da elaboração das cidades, quando nos debruçamos sobre a compreensão do patrimônio cultural, notamos que essa nossa negligência socioterritorial mostra-se como um grande nó em termos de explicação. As relações sociais, aparentemente inexistentes na formulação de práticas de Estado sobre o território patrimonializado, assim como seu entorno, são fundamentais para sua sustentabilidade.

Partindo dessa preocupação e direcionando aos nossos objetivos, utilizar-nos-emos de(a):

  • Pesquisa bibliográfica para a compreensão das bases teóricas que versam sobre a questão do patrimônio cultural;

  • Elaboração de plano para estudo de campo junto à comunidade que vive no entorno da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande

REFERENCIAL

ANSART, Pierre. História e memória dos ressentimentos. In: BRESCIANI, Stella;

 

NAXARA, Marcia (orgs.). Memória (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível. São Paulo: Editora da Unicamp, 15-36.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo,v. 17, n. 49, p. 11-29, Junho,  2002 .

MOURA, Irene Barbosa. O monumento e a cidade: a obra de brecheret na dinâmica urbana. Cordis. História, Arte e Cidades, n. 6, jan./jun. pp. 77-93, 2011.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, dez. 1993, p.7-28.

PROUST, Marcel. (1954) Le temps retrouvé, vl. VIII de A la recherche du temps perdu. Paris, Gallimard. RICOEUR, Paul. (1994) Tempo e Narrativa. Vol I, SP, Papirus.

RICOEUR, Paul. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris: Seuil, 2000.

ROCHA, Ana Luiza Carvalho; ECKERT, Cornelia. Antropologia da e na cidade: interpretações sobre as formas da vida urbana. Porto Alegre: Marcavisual, 2013.

bottom of page